sexta-feira, 18 de novembro de 2005

Ricardo até morrer...

Fui dos primeiríssimos a criticar a escolha definitiva de Ricardo para titular da baliza da Selecção por parte de Scolari. Houve quem ripostasse que eu falava assim porque era portista, é verdade e muito me honra, mas não me determina. Hoje quase toda a gente reconhece que o que Scolari fez e vai fazendo com Vítor Baía (sem lugar entre os três guarda-redes portugueses escalados para o Europeu, no ano em que os treinadores europeus o elegeram o melhor guarda-redes do ano) não encontra qualquer justificação do ponto de vista desportivo ou humano. Para não ter de qualificar a atitude, direi simplesmente que ela é inqualificável. Sobre Ricardo, bastou a forma como perdemos a final do Europeu contra a Grécia para que a justeza da minha observação ficasse à vista de todos. Há uns tempos atrás, os sucessivos falhanços de Ricardo o remeteram para o banco de suplentes no Sporting e, de repente, pareceram ter despertado uma súbita unanimidade de críticas até aí nunca vistas. Ricardo era muito melhor guarda-redes antes de Scolari o ter transformado no caso exemplar do seu autoritarismo. Teria ido então muito a tempo de corrigir ou melhorar o que estava mal, em vez de, atiçado pelo seleccionador, ter revelado sempre uma falta de humildade tamanha que chegou a explicar que um «frango» não era um «frango» mas sim uma «questão técnica» muito complexa, cujo entendimento escapava aos leigos. Dois anos depois Ricardo vê-se forçado a continuar a tentar explicar atabalhoadamente por palavras o que não consegue explicar através dos jogos. E Baía continua a explicar, nos jogos e fora deles, que, além do mais, há uma coisa que o caracteriza e não lhe vem nem das convocatórias para a Selecção nem sequer dos 28 títulos que fazem dele o jogador em actividade que mais coisas conquistou em todo o mundo: classe. E, por esse ponto de vista, não pode restar a menor dúvida de que quem ganhou esta guerra mesquinha foi sempre e só Vítor Baía. E assim chegámos às vésperas da convocatória para o Mundial, tendo já toda a gente percebido que, independentemente da forma em que cada um está ou estiver daqui a uns meses, o Ricardo será convocado e titular e o Vítor Baía voltará a ser ignorado. Independentemente da injustiça gritante desta espécie de critério do seleccionador, agora há um facto novo e evidente: o povo da Selecção percebeu e teme que tudo possa ser deitado por água abaixo no Mundial por uma saída em falso do Ricardo — como ainda este fim-de-semana vimos, contra a Croácia. Daí os assobios, que são injustos para Ricardo, não para Scolari. O«lobby contra o Ricardo», por mais que Scolari finja não perceber, não tem razões obscuras mas apenas aquilo que está à vista de todos. E já não se compõe só de amigos de Baía ou portistas mas agora também de benfiquistas, sportinguistas e todos quantos não tenham medo de ter opinião.

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